quinta-feira, 18 de julho de 2019







                     VIDA INVENTADA




Os anos passam, dois colegas do curso médio iam participar de um evento, logo se reconhecem. Depois das formalidades após o encontro, ainda era cedo, e enquanto aguardavam o início da palestra sobre a inteligência artificial, resolveram tomar um café ali perto. 

O botânico Amilton sentiu vontade de trocar ideias com o antigo colega, agora padre Anselmo, o assunto que os trouxera até ali era de fundamental importância, e já acomodados no Café Daora,  deu início a conversa:

—Tenho falado em minhas aulas de botânica que, bem ou mal, é certo que o homem inventa sua própria vida a partir da realidade que o cerca, sendo efetivo o seu poder criador, ou transformador, pois como disse Lavoisier “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. 

O padre Anselmo continuava calado e o botânico continuou a falar: 

- Frágil ao nascer, o ser humano tem possibilidade de crescer para atuar de uma forma capital no mundo. Diferente dos outros animais, que já nascem praticamente prontos, sua inteligência insuficiente para acrescentar algo ao seu modus vivendi.

— Sou sacerdote, e assim penso sobre o homem, ser racional e emocional, que a certa altura de sua trajetória na terra, descobre que é uma criatura, que tem um Criador. O cérebro humano com potencialidade para criar, e validar seu ser primitivo, original, e ao mesmo tempo supri-lo em bens, ou valores, sua missão maior. À riqueza material acrescentam-se os bens espirituais necessários para uma vida plena.

Era mister que os dois continuassem o assunto empolgante para ambos. O sacerdote deu um gole no café, que acabara de ser servido, e escuta o amigo cientista com atenção:  

— Nada se inventa, e pensando como cientista, que acredita em Deus, isso pela simples razão que desacreditar é uma grande bobagem, digo que todas as descobertas do homem têm seu valor, e o que devemos é nos resguardarmos dos modismos, e se ame a grandeza do pensamento livre de quaisquer mentira. Dou atenção às minhas intuições, base das grandes descobertas científicas, auxiliar do homem em suas buscas. Poesia, literatura, música, produtos altamente intuitivos, que suprem as prementes necessidades humanas.  

Era a vez do sacerdote falar:

— Meu caro, esse ser racional e também espiritual que é o homem, por uma questão de sobrevivência começaram por inventar seus instrumentos rústicos de pedra. Depois de serem simples caçadores, foram adiante, resolveram plantar e colher. O homem indagava sem parar. Até que chegou à certas perguntas cruciais: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Existe vida depois da morte? Existe Deus? Momento extraordinário, a união de filosofia e religião, dando respostas  altamente pertinentes.

— O que move o homem desde sempre, padre, é o impulso primitivo, em que o desejo de busca e de fuga fatalmente se associam, até chegar às fantásticas descobertas tecnológicas e científicas. As máquinas atuais até falam, só lhes falta raciocínio, e pouco tempo para acontecer. Infinitas as possibilidades da tecnologia. A inteligência artificial pode até superar o homem em sua capacidade de ter ideias e decidir.

—Hoje a era é tecnológica, mas duvido que a inteligência artificial possa ultrapassada a mente humana, e criar uma alma.

As palavras do padre ficaram sem resposta, não havia mais tempo e os dois levantaram-se. Tinham ambos importantes pontos em comum, mas era certo que a visão humanista e religiosa do padre em um ponto crucial se diferenciava da teimosia materialista do cientista. Certamente que os dois amigos ainda iriam ter oportunidade de trocar ideias, afinal, buscavam o que todos os homens de boa vontade buscam, ajudar uns aos outros a viverem melhor.


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