sábado, 26 de outubro de 2019






                               ADMIRÁVEL MUNDO VELHO


UNIVERSIDADE DE COIMBRA




                 Fala uma antiga Mestra:

               "Século XXI, de tendências e práticas, que podem resultar numa revolução sem precedente no mundo, o que não significa, todavia, uma evolução. Provoca receios, e a pergunta que se faz é a seguinte: Até onde vamos chegar? Ninguém quer se ver fora do processo, nem ficar para trás. Se anteriormente as pessoas eram engolidas pelo sistema, hoje podem ser devoradas por situações adversas, o que requer precaução redobrada.

            Um trabalho extenuante é o de escolher que corrente seguir, e lá se vão as pessoas em frustrantes peregrinações aqui, ali e acolá. Ao deliberarem sem base, acabam por seguir uma trilha qualquer, para chegar a lugar incerto. Antes, por exemplo, não havia dúvida que os alunos deviam estar bem acomodados em suas carteiras, enfileiradas na classe, onde o professor dava sua aula, escrevendo com giz seus apontamentos na lousa. A atenção fixada nas matérias de um sério e bem elaborado currículo escolar.

              Admirável mundo velho, que se mostra em seu passado esplendoroso, para os turistas. A vida relativamente tranquila, confortável as relação entre as classes sociais, um mundo em um rígido sistema de valores. E importava governar com persuasão e até coerção, em vez da omissão, importava a paz paz social. O equilíbrio moral que permite a redenção da riqueza pela partilha com os menos favorecidos. O entusiasmo tutelar que não se identifica exclusivamente com a Igreja - estava no centro da legitimidade cívica, ou da cidadania. Uma burguesia bem sucedida, que honra sua fortuna, o que constitui ao longo dos tempos as maiores preocupações  do humanismo católico. Era assim no século XVII nos Países Baixos, e não muito diferente em S. Luís capital do Maranhão do século passado, vivendo sua idade média. A justificação do dinheiro pela caridade, quando não havia leis sociais, muito menos computador.

               A vida cultural e social mudou drasticamente nas últimas década. Hoje temos a internet que facilita as comunicação e torna o conhecimento acessível a todos, e de forma exponencial. Ciência e tecnologia, todo o conhecimento humano à disposição de todas as classes sociais indiscriminadamente, basta um simples clique. Na sala de aula já é comum o uso dos computadores e tabletes. Nem lousa, nem giz, nem algumas matérias do antigo currículo escolar, abolidas para dar lugar à tecnologia que avança sem parar, os alunos estimulados a terem experiências concretas. Instrumentos os mais variados, em substituição ao caderno, ao livro e todo conhecimento abstrato. 

                 Novas disciplinas apresentam-se como essenciais para esse mundo novo, o caso da programação no computador, da cidadania digital, pois é importante acompanhar o que acontece nas redes e como nelas se comportar. A sala de aula e suas sólidas paredes, como existiam no passado, dão lugar a  espaços para as habilidades socioemocionais. Os alunos deixam as carteiras de lado, sentam-se em círculo para interagir entre si. Devem aprender na escola a lidarem com a diversidade e as adversidades, o que não é novidade. E vem de longe o senso crítico, que os antigos tinha afiado. Tudo isso que existia embutido numa formação diversificada, através de professores altamente compromissados e gabaritados, através dos livros e da leitura, com a cooperação de entidades idôneas como as igrejas, entidades da maior confiança, o que hoje se deixa de lado, por alguma razão, ou desrazão, infelizmente. Ao reverem os conceito de sala de aula, há escolas que levam os alunos para debaixo de árvore. Quem sabe sob as águas no futuro?  

             Os jovens da década de cinquenta, sessenta, estavam, sim, bem equipados  intelectual e socialmente, para resolver os problemas do presente e os que estavam por vir, prontos para enfrentarem a vida, o que fizeram com galhardia. O que ficou perdido nesse emaranhado de mudanças, comandadas pelas ideologias. Mas fiquem sabendo, que não foi obra do acaso todo esse conhecimento científico e tecnológico, que os herdeiros disso tudo querem desperdiçar. Não basta abolir as carteiras nas salas de aula. E se a lousa hoje é a tela do tablete, não devem ser ignorados os trabalhos que aconteciam nas verdadeiras salas de aula, e deram certo.

             Avançar, sim; atualizar-se, muito bom. Mas sem destruir a antiga forma, sem alijar  anteriores fórmulas, legado que não deve ser negligenciado em favor de uma modernidade acachapante. Apela-se para a improvisação, para a virtualidade, nem sempre dignas de confiança. E como aliar rigor acadêmico com tudo isso? Como os jovens podem se educar a contento, quando o incentivo é para que se tornem livres, leves, soltos, e contestadores? Uma nova utopia, e nada mais." 


Bruges - Bélgica










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