domingo, 18 de maio de 2014

                             A INSUSTENTÁVEL FIRMEZA DO SER






               Por qualquer coisa desabamos: nos angustiamos, choramos, esbravejamos, e, em situação extrema, caímos em depressão, hoje um mal tão presente entre nós. Parece que não há como as pessoas se manterem em equilíbrio num mundo estressante como este em que vivemos. Parece que tudo contribui para a tristeza, embora só queiramos ser alegres, felizes, coisa que tempos atrás ninguém se preocupava. Milan Kundera fala de leveza no seu livro “A insustentável Leveza do Ser”, eu penso em firmeza, também precária, leveza e firmeza do ser. Não se pode falar ser sem lembrar da filosofia, o muito que se deve conhecer sobre o ser em Aristóteles. Questão shakespeariana: ser ou não ser. Me reporto então ao passado distante, até mesmo o recente, o mundo mais viável, ninguém pensava que existisse tanta tristeza, nem a felicidade fosse tão exigida como é atualmente. Apreciava-se a vida  de forma mais tranquila, sem grandes expectativas, nem privações materiais e espirituais. O pai tratando de prover o sustento da casa, onde moravam famílias imensas; a mãe a procriar e educar os filhos, ambos com o devido altruísmo. Os filhos obedientes e respeitosos. Os dissabores grandes e pequenos contornados, quando as mulheres consertavam os maridos o quanto podiam, assim como o orgulho dos homens era moldar as mulheres, casadas muito jovens com pessoas mais velhas. Assim seguia a vida seu rumo, mesmo desaprumada, pois não havia muito o que fazer, um mundo apenas possível, hoje quase impossível de se viver, com todo o avanço científico e tecnológico. Buscam-se formas de conviver com o caos contemporâneo, mundo sofisticado, mas caótico, onde as armadilhas estão por toda parte.
                A porta fechada, bem trancada, a casa quase vazia, e cada um diante do seu computador, ou outro qualquer aparelho de comunicação, onde diversão e convívio acontecem através da internet. É como se vive atualmente, o lá fora está cá dentro, no computador, convivência estranha e também assaz perigosa, quando a pessoa fica mais vulnerável ainda, por desconhecer os perigos que as cercam, longe, como perto. No que diz respeito ao casamento, os cônjuges prontos a se descartarem um do outro ao primeiro sinal de “incompatibilidade”.  Estabelecido pelo costume o papel do homem e da mulher, por exemplo, mantinha-se a firme ideia sobre o certo e o errado. Acontece que não havia meio termo: ou a pessoa era santa para ser levada no andor, ou pecadora para ser jogada na lama. O preconceito que se formava sobre as pessoas em evidência. Melhor ficar na sombra para não ser endeusado, nem crucificado, o caso da mãe de família que devia manter o seu papel de santa dentro do lar. Trabalhar fora nem pensar, que a mulher estaria fugindo de suas obrigações ao lado do marido, mesmo o pior dos homens. Havia as que se impunham, sem justificativa para fugir às regras estabelecidas, o caso do trabalho fora de casa. O preconceito que existia contra a mulher, mas não levava a se trucidar uma inocente na rua pela simples razão de ser feita justiça. Uma imaginária bruxa sequestradora de crianças, coisa hedionda que merece punição, mas que seja feita por quem de direito, não com as próprias mãos. Mas como exigir isso de uma turba de ignorantes, num mundo injusto e metido a besta como o nosso, os justiceiros soltos por aí. A maldade inerente ao ser humano, explica parte da questão. A dona de casa do Guarujá foi espancada até à morte, quando ela sofria de doença mental, uma pessoa frágil que se sentou em um banco da praça, tentou conversar com uma criança, e deu no que, deu. Todo cuidado é pouco nesta barbárie em que se vive hoje.  

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