quarta-feira, 13 de abril de 2016







                                           DOIDA

 




       Antes mesmo do café da manhã ela senta diante do computador, doida para ver as postagens matinais dos amigos internautas, alguns madrugadores.  Assunto é que não falta, e passa a escrever para o blog que a neta lhe criou. Adélia Prado diz no poema Dona Doida: “De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei se não for santa?” Tem que se pensar na segunda hipótese. O dia começa mais quente que de costume, a temperatura quase insuportável. O calor aumenta em todo o planeta, uma tragédia anunciada, que vamos morrer sem água para beber, a prova está diante dos olhos, os rios secos, esturricados, uma coisa de doido. Custa suportar o clima, assim como as notícias. O companheiro ao lado ameniza o pessimismo: “Logo, logo, o tempo vai mudar, papai do céu vai mandar chuva, e os ares de Brasília vão melhorar, é bom parar com os alarmes!”
   
          Como o tempo passa! Notícia que  acaba de ser postada, dois velhinhos em visita a Europa, são Ankihito e Michiko, os soberanos japoneses. Ela lembra do casamento do herdeiro Naruhito com a plebeia Masako, a qual teve crises de depressão, e a duras penas o casal teve uma filha, Aiko, impedida de herdar do trono, por ser mulher. Sociedade machista, mesmo assim, é de sentir inveja a tranquilidade política e social daquela nação, alicerçada na tradição do trono, como na Inglaterra de Elizabeth II. Por aqui o impeachment da presidente Dilma Rousseff está em dias de definição na Câmara e no Senado.

      “Impeachment Já”, ou “Não Vai ter Golpe” são os slogans da oposição e do governo, respectivamente. Muitos políticos presos pela Lava Jato, operação policial que tem como chefe o corajoso juiz Sérgio Moro. Há esperança que a incompetência e a corrupção se afastem do poder, mas pouco provável, o país irremediavelmente esburacado como as estradas, onde as pessoas arriscam suas vidas.
 
 
 

       Mais santa que doida, é como ela queria finalizar seu dia na internet, depois de escrever este texto. Dez da manhã, tem as tarefas da casa para fazer, que as horas passam rápido. Retruca ao companheiro: “Verdade que estamos todos cada vez mais doidos. Temos que ficar mais santos.”

 

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