quinta-feira, 16 de agosto de 2018






      VIDA, MINHA VELHA AMIGA





Morrer, experiência final, tão natural quanto viver. Sessenta, setenta, oitenta, a vida se completando, um presente, bastou desamarrar a fita, remover o lindo papel e de repente ter em mãos o produto acabado, como que novo, mas tem alguns bons anos, às vezes, uma raridade. O saber não surge do nada, simplesmente é o resultado de tudo, infância, juventude, mocidade, cada etapa um novo tempo. Ela agora se dá conta, não do fim, mas do seu começo, e resolve colocar aquela menina outra vez no centro de sua vida. No caminho o trabalho, a família, os filhos, mas a criança é o começo de tudo. Tempo de fazer uma visita amiga, a alguém lá longe, e ainda vive. 

No mundo atual ter oitenta anos, e ainda contar com mais vinte anos pela frente, acontece frequentemente.  Nem pensar na morte, já que todos nós, sem exceção, estamos por um fio, desde que nascemos. E a melhor defesa contra o desgaste que o tempo faz  é não deixar morrer alguém que esteve sempre conosco, e ter com ela momentos reconfortantes. E a menina sabe que fui sua melhor amiga, que a vi crescer e aparecer. Podia ter feito mais por alguém tão especial? Sim, sempre se pode fazer mais e melhor. Feliz de quem foi o amigo especial de si mesmo.

Vida, minha velha amiga! Lembra também com gratidão os bons amigos, aquelas pessoas indispensáveis, que estiveram por perto, ao seu lado, por pouco, ou muito tempo, que acrescentaram. Todos indispensáveis, sim, mesmo os que nada tinham a oferecer, e os que deixaram lembranças ruins, se o permitirmos. Triste constatar que muitos já se foram, mesmo assim, podemos chamá-los para uma conversa amiga. Melhor que tudo, conversar com os que nos podem escutar, que estão aqui presentes. Amar o próximo como a si mesma, sempre.


2 comentários:

  1. Texto realista, sem ser cru, dramático e com uma certa ternura aflorando de suas linhas.....

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