sábado, 12 de dezembro de 2020

 

 

                       É BOM NOS DARMOS AS MÃOS

 



 

 

Pensemos nas pessoas encarregadas de salvar-nos do mundo e de nós mesmos. Ainda criança escutei uma cruel advertência: “Vou te deixar de mão...” Alguma teimosia que não lembro. E vital era aquela mão firme e amiga na  condução da minha vida. De pronto senti o que significava estar solta, sozinha no mundo, e eu devia  confiar em quem me podia conduzir.  Lições  de vida que recebi e não se esgotam.

              A criança deve, em primeiro lugar, contar com a atenção dos pais,  também é bom ter  uma pessoa da família que lhe segure a mão, sempre que houver necessidade. A mãe atarefada em ajudar o pai a ganhar o pão de cada dia, tinha três empregos, numa época em que as mulheres cuidavam apenas do lar. Pela manhã dona Daisy - prestes a completar 104 anos - dava expediente na Prefeitura, à tarde fazia doces para festas junto com a irmã, à noite ensinava no colégio São Luis, do Professor Luis Rego. E penso se terei cumprido por um pouco que seja o esperado por mãos tão habilidosas em modelar o doce de castanha, e fazer surgir singelas esculturas, pintadas com esmero.  A mesma paciência que a mãe tinha para com as durezas da vida.

Minha avó, de formação europeia, outra mão a dar-me segurança, representava para mim confiança e altivez. Sozinha em sua casa, com gostava de estar, liberta de tensões, ela me fez ver a soberania dos sentimentos mais nobres do ser humano. Uma vida que vi encerrar ainda tão plena de esperança, em um momento feliz, como ela mesma me dissera dia antes. Com sua partida o sentimento era de eu ter sido abandonada, aliado à dor de vê-la ir embora para sempre. Guardei na memória seus olhos azuis a olhar-me confiante indo para o hospital, vindo a falecer quinze dias depois. É uma dor imensa que me acompanha vida afora.

Minha vontade é perguntar a essas pessoas se valeu a pena apostar na menina e na adolescente, que amava a vida acima de tudo, e teve a felicidade de passar por mãos tão santas e tão sábias. E tinha as madres do colégio católico em S, Luís do Maranhão, que se esforçavam na educação das suas alunas, com esperança na salvação de todas. Nossos impulsos vitais requeriam boa orientação, e não fôssemos deixadas ao leu. E nos salvamos, graças a essas santas mulheres e a Deus.

             É bom nos darmos as mãos. 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário