terça-feira, 29 de dezembro de 2020

 

                                          MEU AMIGO VERMEER

 

              Há algum tempo Vermmer me acompanha. Acredito que fui encorajada pelo pintor a mostrar minha escrita, a expressar-me com a arte das palavras. Vejo o mundo globalizado de agora, como era antes, mundo em transição, quando o didático e reformista pintor afere o comportamento das mulheres, que se movimentarem em todas as direções. A experiência de vida na época beira o excepcional, é mister alertá-las, sobre os comportamentos. O mal sempre à espreita para dominar, o que ainda hoje acontece, em pleno século XXI — o assédio.

              Extraordinária arte holandesa do século XVII, da qual faz parte o mestre de Delft, do barroco alegórico, onde se detecta nuances de uma sociedade, em parte decadente, ainda não reformada, afeita ao deslumbramento e ao êxtase, com sede de modernidade. Goethe um século depois do pintor faz seu alerta: A burrice não conhece nenhum cuidado. E cuidado é o que pede Vermeer para as mulheres em seus quadros, ou seja, que se cuidem, de acordo com sua classe social. A tragédia que é a falta de educação e a pobreza espiritual, tão danosas quanto a fome e a guerra, o que acomete ainda hoje a humanidade, apesar da propalada civilização e riqueza.

                          O quadro Arte da Pintura esteve indevidamente pendurado no escritório de Hitler, de lá sendo retirado pelo comando dos aliados ao término da guerra. E o que essa genial pintura teria inspirado o ditador genocida? Absolutamente nada, uma vez que aquele ser ignóbil não sabia ler o que a arte expressa. E se o nazista fosse capaz de perceber sua malignidade, poderia ver que não escaparia do olhar atento da ética, da moral, do respeito, daqueles que prezam o bem acima de tudo, e o derrotaram.

Meu amigo Vermeer supera a invenção para falar de coração para coração.

 

 BREVES  INTERPRETAÇÕES  DE  VERMEER

 

 


 

O quadro Mulher com um Vaso de Prata tem como tema a fé católica, numa sociedade reformada, que exigia postura ética. Uma noviça segura um vaso d`água, seu olhar voltado para o vitral da janela. No convento onde está abrigada há possibilidade de ter uma vida melhor, ali onde estaria menos vulneráveis. Há ainda a possibilitava de que ela saia fora dos limites da clausura, que as moças escolhiam por vocação, também para fugir do assédio sexual e moral, quando não da pobreza material. E o sonho da igreja na quele momento é do trabalho missionário, e o da mulher de liberdade individual. A prata do vaso importada da América e da Ásia, contendo a água do batismo, que a igreja católica e missionária realizava nos povos distantes.

 

 

 

 


 

 

No quadro Mulher Escrevendo uma Carta uma figura feminina está sentada e seria uma representante da burguesia próspera, versada na leitura e escrita. A educação faz com que as mulheres ascendam socialmente, com ganhos financeiros e de respeitabilidade. A carta pode trata-se das finança, uma carta comercial. Novidade a mulher tratar de assuntos econômicos, o que vai mexer com a estratificação social, não mais determinada pelo nascimento e, sim, de acordo com o que possui em dinheiro e bens materiais. Ao lado da missivista a mulher mais jovem olha para fora através da vitral colorido da janela, o que significa a possibilidade da concretização do sonho de  ascensão social e liberdade. A carta, no caso, seria de apresentação da jovem para uma colocação além muros.

 


 

 

Em dado momento da história acontece o extraordinária acordo entre patrões e empregados, o que pode revelar o quadro Senhora e a Criada. A carta entregue para a senhora (uma aristocrata pelas vestes) pode ser uma mensagem qualquer, mas é provável que se trate de um contrato de trabalho. A patroa com a mão no queixo com a surpresa. Na época, o inglês Thomas Hobbes (1588-1679) propõe que a autoridade não seja coercitiva, mas acordada entre as partes, tendo em vista a paz e prosperidade. John Locke (1632-1704), como seu conterrâneo, também trata sobre as relações de trabalho, que os homens acordem livremente, para a constituição de uma sociedade política organizada. Na modernidade as mulheres que trabalham em casa e nas oficinas passam a ter seus direitos assegurados por contrato social. Vermeer era um homem culto, pertencia a uma guilda de pintores, seus quadros refletem a realidade social, que se modifica na progressista Delft. O alvorecer da moderna cooperação e paz na polêmica relação patrão e empregado, ou como mostra o quadro acima, de patroa e empregada. Da mesma forma sugere o pintor que haja acordo entre católicos e protestantes.

  FELIZ 2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário