sexta-feira, 14 de junho de 2013



                    SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO III



         

      Em Eurípedes o mundo é trágico, beira o abismo.  Dionisíaco, ele antecede a visão criadora, sóbria, apolínea. A decadência vai ocorrer em ambos os cultos, quando for abandona a medida (metron: vara de agrimensor nos poemas de homéricos), pois há limites, que não podem ser ultrapassados. É mister encontrar uma saída, ou seja, a serenidade olímpica, penosa, mesmo em cenário de sonho expresso no drama de Shakespeare O poder heroico-bárbaro que pode, excepcionalmente, curar as paixões arrebatadoras dionisíaco-apolíneas. Mas o querer impulsivo da subjetividade está contra essa vontade em Atenas, em Esparta, ou em qualquer outra civilização. Na Tragédia, o estado estético e antiestético da alma grega tem sua apoteose, seguida de queda, quando a filosofia natural de Aristóteles entra em cena.
            Longe da Grécia clássica o mundo fervilhava de influências de toda espécie. No drama shakespeariano Oberon, rei das fadas, enciumado, reclama que Titânia lhe deve ceder o infante, que ela traz consigo, um amor imaturo, quando então os prazeres, assim como os sofrimentos, merecem compaixão. Na peça dos bufões “A Mui Lamentável Comédia e Crudelíssima Morte de Píramo e Tisbe” não há um Minotauro a vencer, mas um burro que  ”dele se há de correr”, e se trata de Fio com a máscara de burro, do qual os outros artífices-atores correm, levados por Punk. Com o naturalismo a humanidade tenta fugir do passado assombrado. A verdade, todavia, é caprichosa, requer mente pensante, espírito lúcido, alma santa, que vai conduzir o ocidente à ciência, à piedade religiosa.
          Segundo Plutarco, o sábio Nearco teria aconselhado Alexandre a manter-se afastado da Babilônia, onde o conquistador se encontrava em seu palácio rodeado de adivinhos, exorcistas, sacrificadores e curiosos, os quais, segundo o historiador, insuflavam o rei com tolices e terrores a se “infiltrarem-se como água em direção às partes baixas”.  Logo após Alexandre começou a perder ânimo e fé nos deuses e em seu próprio filho a quem escarneceu: “Eis aí um sofista, discípulo de Aristóteles, hábil em provar os prós e os contras.” Assim, quando o conquistador morreu na Babilônia, Aristóteles foi acusado de ter aconselhado o crime.     

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