terça-feira, 18 de junho de 2013




           Sonho de uma Noite de verão V
       




      Filóstrato, mestre de cerimônia de Teseu, avisa que o Prólogo inicia a apresentação dos atores e personagens da peça, que trata de dois amantes ao luar, separados por um muro: Fio fará o papel de Píramo, Flauta vai de Tisbe, Trombudo de Muro, Faminto de Luar e Justiceiro de Leão. Muro entra logo depois do Prólogo, com Trombudo, que jura ter uma fresta no Muro “por onde Píramo e Tisbe se falam secretamente, e só por uns instantes.” Teseu recomenda aos nobres: “Píramo chegou ao muro, quietos!”   Aporta ás margens do rio Tigre a civilização bárbara dos descendentes de Enéas, Príamo, para dialogar a civilização, a romana, Tisbe.  O encontro apaixonante do Ocidente com o Oriente, como também do Novo com o Velho mundo. Píramo, contudo, teme que a amada tenha se esquecido do encontro: “Ó noite que sempre acontece, quando não é dia! E tu doce e lindo Muro que te ergues entre as terras do meu pai e as do pai dela! Mostra-me tua fenda! Mas que vejo? Tisbe é que não vejo. Muro mal que não mostra o paraíso. Maldigo tuas pedras que me enganam!” Ambas as partes estão enganadas uma com a outra, conforme consta do texto. Teseu interfere: “O Muro, dotado da razão devia também maldizê-lo.” Tisbe é que devia dizer “que me enganam” e não Píramo, que passa a palavra à amada em protesto contra Teseu.
    As artes e artimanhas da vida faz com que permaneçam separados os amantes, ou as civilizações, os saberes. Na política, a dissidência que havia entre o aristocrata Cícero e democrata Catilina. Ou entre a política de Sólon e a filosofia de Pisístrato, como diz Plutarco, eles se comunicavam através de uma brecha no muro. Muro avisa antes de ir abaixo: ”Eu já desempenhei a minha arte”. Teseu dá o seu aparte: ”Caiu o Muro entre os dois vizinhos.” Hipólita, transportada da Tragédia, aproveita a queda do muro para criticar os atores: “Isto tudo é a maior estupidez.” Mas aconselha que haja compreensão com o que está ocorrendo naquele momento. Teseu anuncia: “Se não imaginarem deles o que eles próprios se imaginam, passarão por artistas excelentes. Aí vem duas bestas soberbas, um homem e um leão.” Diante daquela figuras elucubra a “bravura e discernimento” que o personagem marceneiro/Leão pensa ter. Drama, não tragédia, o que doravante vai ser a utilização da arma da astúcia, coisas de que passam a se valer a política e o comércio.
      Teseu, um leão guerreiro, comenta do Leão personagem do drama que assiste junto com o nobre bárbaro e o ateniense: “Uma fera muito conscienciosa”. Ao que Demétrio acrescenta: ”A melhor fera que já se viu.” Lisandro dá seu parecer: “O Leão é uma valorosa raposa.” Teseu: “... e discernimento de um ganso”. Demétrio conclui: “Quem sempre ganha é a raposa.” Em seguida vai ser ouvida o homem/Lua que entrou em cena junto com o Leão dizendo que a lanterna que carrega são os “cornos da lua”: Ao que Demétrio aconselha que o alfaiate/Faminto a coloque na cabeça, ficando em melhor situação que a do tecelão/Fio com sua orelha de burro. Teseu é mais cruel: ”Ele não é crescente, os cornos desaparecem dentro das circunstâncias.” A lua redonda, ou cheia do burro, desaparece, ou suas superstições. Um saber que pode causar admiração, mas são “luz de vela”, ou “pavio queimado”.
      O homem medieval que possui matéria inflamável, muito instinto e apaixonado pelo absoluto, Píramo, num ato extremo convida Tisbe: “Vamos nos encontrar na tumba de Nini”. Nini ou Nino, rei da Babilônia. O sincretismo babilônico, ou do helenismo que retorna ao mundo com as conquistas marítinas. O que faz o Leão rugir e Tisbe fugir apavorada. “Bem rugido, Leão”, aparteia Demétrio. E quando Leão fuça o xale que Tisbe deixou cair, diz Teseu: “ Bem fuçado Leão”. Enquanto o Leão ruge e fuça, a Lua ilumina a cena para gáudio de Hipólita: ”Bem iluminado Lua”. Continuam, todavia, separados Píramo e Tisbe , o que é uma ameaça para o mundo latino, romano, que Tisbe representa, assim como o foi pra o troiano, quando  Atenas, ou o saber grego, derrotou Troia. Também houve o incêndio da biblioteca de Alexandria. Crimes praticados contra as civilizações mal assimiladas. Píramo diz então: “Minha alma sobe ao céu.” Uma farsa tal suicídio. Hipólita se manifesta: “A mim me parece que, por um Píramo desse, a paixão não deve se prolongar muito. Espero que seja breve.” É quando acontece a ruína de muitas civilizações.
        Puck, que no Sonho é a lenda, o poder intermediário, dá sua versão final ao drama encenado pelos bufões: “Crepita já no fim a lenha, enquanto a coruja pia estridente, recordando ao culpado sua mortalha”. A paixão que se apaga com a racionalidade. Prossegue o espírito natural: ”Esta é a hora sem lua, em que dos túmulos abertos saltam espectros errantes.” Um tempo de descrença que a alma atravessa. Continua a fala: “ Nós duendes, que corremos atrás do carro da Hécade, fugindo da presença do sol, que esquecemos no sonho da escuridão, vamos brincar, nem ratinho vai perturbar nosso ninho. A vassoura na frente vai varrer para trás o pó”. As lendas afastam as superstições, mundo da infância da vida, quando a realidade se esconde até o amadurecimento. Dá-se o fim do Sonho com a saída de Puck, a transição, pedindo que o aplaudam como amigo que foi, por ser  benfazejo sonhar e acreditar nas lendas.
      

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