terça-feira, 25 de março de 2014




                 ROMANTISMO VERSUS REALISMO




   
   No passado as uniões estavam mais próximas do amor romântico, menos sexuais e mais ideais, focadas na felicidade conjugal e familiar, o que a exigência do sexo pelo sexo não pode realizar. Pura ilusão, engodo de outros tempos? Em princípio, o que move um homem e uma mulher a se unir sempre foi instinto sexual, não tem como ser diferente. Mas o casamento acontece também por outros interesses, quando se leva em conta, segundo os entendidos, o instinto de preservação, não só da espécie, mas do próprio indivíduo. Considerada de padrão darwiniano a união com a finalidade da realização do prazer sexual, consequentemente a perpetuação da espécie. Enquanto seria mais humana a relação em que são cumpridas regras pré-estabelecidas pela natureza, também pela sociedade, pela formação pessoal, seguindo uma consciência universal e própria de cada um. O certo é que risco de ser infeliz só ocorre a quem não ama. Compreendendo-se que amor não significa simplesmente sexo, pois tem várias formas de amor: materno, filial, a Deus, etc.

   O Primo Basílio de Eça de Queiroz mostra o olhar crítico do autor para com a tragédia do romance entre os primos Luísa e Basílio. A tendência do macho seria a aventura sexual, e se afastar satisfeito em seu instinto, o que acontece com Basílio, que retorna mais tarde, para encontrar Luísa vivendo o enfado de sua vida de casada. Eles voltam a se relacionar por conta daquele aventura romântica da juventude, o que leva Luísa a trair o marido, sendo outra vez deixada para trás pelo agora amante. A facilidade com que os românticos se enganam no amor. O drama do romantismo diante da realidade. A traição feminina, além do mais, acontece pelo caráter do personagem. A realidade de Eça fala para a mulher, romântica por natureza, que ela não ceda ao oportunismo do homem, nem ao seu próprio oportunismo. Uma mulher que vai sofrer, por ter traído, principalmente, a si própria, fracassando em suas uniões, por falta de sentido para sua vida, que seriam os filhos, uma profissão, religião, etc. A religião estaria fora para o autor, que se dizia ateu.

   O desfeche trágico do romance de Eça teria sido pelo realismo do escritor, também pela censura, que faz a heroína sofrer até à morte. O controle excessivo da criada, ou da sociedade preconceituosa, uma primitiva megera, não impediu que Luísa se jogasse numa aventura, mas fez com que ela morresse de medo e desgosto. Também Capitu de Machado de Assis, cuja traição não é comprovada, questão de estilo do autor. A dúvida que vai perdurar para sempre em Bentinho e nos leitores. O inocente Ezequiel, filho de Capitu, seria a redenção do casal, porém a prova do crime. Machado, todavia, preferiu a dúvida a uma certeza de difícil comprovação à época. O drama é o mesmo, tanto de Capitu quanto de Luísa, a traição, que acontece para o bem e para o mal. Só que Machado colocou um ingrediente importante, a dúvida, antes da ciência, que na realidade não pode dirimir todas as dúvidas.

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