sábado, 18 de julho de 2015






                       A GRANDE FAMÍLIA



 

     A família não tem de ser necessariamente grande em número de pessoas, o que hoje em dia é improvável que aconteça, apenas algumas reminiscentes. Em compensação, deve ter aquela grandeza, pela maneira como seus integrantes agem entre si e como tratam as demais pessoas fora do seu núcleo. Acolhedora sem ser por demais permissiva, assim como acontece com as pessoas individualmente. Esse negócio de ter a porta aberta dia e noite para quem quiser se abancar, nem para os membros mais chegados. Esperar o convite e nunca ser inconveniente. É o respeito que mantém as coisas nos eixos. Não ser a “casa da mãe Joana”, expressão vinda do século XIV segundo Câmara Cascudo. Joana I de Nápoles e condessa de Provence, teve uma vida conturbada, envolveu-se com uma conspiração e que aos 21 anos foi exilada pela Igreja, e se tornou dona de bordel, lugar onde cada um faz o que quer, sem nenhum tipo de regra.    

     No passado as famílias moravam em casas espaçosas, e era comum os filhos continuarem residindo com os pais depois de casados, geralmente por necessidade, ou mesmo comodismo. O casal, ou os casais, permaneciam nessa situação por muitos anos, até a vida toda. A coisa aceita como norma, e todos se dando bem em família. Por falta de dinheiro, também porque a mulher era induzida a casar muito cedo, e  sem maturidade para arcar sozinha com a responsabilidade do novo lar, cuidar do marido e dos filhos. Era o que a família original pensava. Havia casos em que o novo par assumia a direção da casa e tudo ficava numa boa, os pais felizes por terem quem cuidasse deles na velhice. Havia abusos de poder, mas tudo bem, valia a pena pela família, que permanecia unida.

      Ou melhor seria que cada um casasse e fosse morar em sua própria casa? O alerta veio em boa hora, que os casais começaram a se desentender, cada um querendo puxar a brasa para sua sardinha. É uma brasa, mora? Roberto Carlos que o diga, com casamentos um atrás do outro, incentivando a moçada. Não apenas ele,  especialmente a turma dos psicólogos. Acomodar-se em casa dos pais, ou partir para a experiência mais importante da vida que é ter seu próprio lar? A ruptura foi drástica, e muita gente saiu de casa para morar sozinha, que o barato, mesmo, era estar livre, leve e solta. A profissionalização foi a mola mestra da mudança. E o pleno emprego da época, que os mais novos deixavam de depender financeiramente dos mais velhos. E emocionalmente? Ninguém queria pensar nisso.

       Longe da casa e do controle, que se dizia burguês, as pessoas foram viver suas experiências. A tecnologia dava condições para que a vida fosse cada vez mais confortável, mais fácil. A expectativa era grande, e a desconfiança idem, na mesma data, que a família sumisse, ela que vinha se deteriorando. Mesmo assim a nova geração era reverenciada como se tivesse atingido o ápice da evolução, os mais velhos, vistos como primitivos habitantes da terra, e alguns eram assim mesmo. Mas o que estava ali para todo mundo usufruir era fruto do trabalho e do saber, acumulado geração após geração, gente que acreditou no progresso e foi leal aos bons princípios. Não entender isso é navegar em águas turvas, e todo mundo sabe disso. O certo é que, hoje, para se ter uma grande família, não precisa que ela seja numerosa em número de filhos, nem é conveniente que seja assim, mas se exija dos seus membros  respeito e cooperação.

         


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