quinta-feira, 9 de julho de 2015






                                O MAGO

                                                  







             
Há algumas décadas surgiu no cenário editorial brasileiro e internacional uma figura de performance surpreendente e que fez sucesso imediato, Paulo Coelho. Seus livros fenômenos de vendas, nos quais o escritor conta de forma pessoal e romanceada suas experiências com a magia, além de aconselhar os leitores, entre outras coisas, que cada um crie sua própria lenda. Acenava ainda com a possibilidade de qualquer pessoa tornar-se um mago,  fazer chover, como ele próprio diz que faz. Criou em sua volta uma multidão e admiradores. E tão famoso ficou, que se dizia ter a rainha Elizabeth II um livro do mago brasileiro na cabeceira.  

       “O Diário de Um Mago” foi aquela explosão de leitores, o que se estendeu com “O Alquimista” e nas publicações seguintes, até hoje. O escritor vinha de experiências com drogas pesadas, e internações em hospitais psiquiátricos. Tinha sido parceiro de Raul Seixas, os dois cada vez mais envolvidos com sexo e magia negra, quando então o letrista resolveu abandonar aquela loucura, principalmente depois de ser preso e torturado na ditadura militar. Coelho passou então a adotar um misticismo próprio, para o deleite dos seus milhões de fãs mundo afora.

      Com as descobertas científicas houve uma revolução nos costumes, o alvoroço das drogas, as legais para a cura das doenças, inclusive para os distúrbios mentais. Logo ficou evidente a gravidade da dependência química, os danos que podem causar ao cérebro. No início os alucinógenos chegaram a ser receitados aos doentes psiquiátricos, procedimento que foi logo descartado. Sigmund Freud causou impacto sem precedente na medicina, ao apontar a sexualidade como fator importante no equilíbrio do corpo e da alma. Já seu aluno, Carl Jung, resolveu estudar o melhor a questão do psiquismo, afastando-se do mestre. Guardada as devidas proporções, algo que aconteceu com Paulo Coelho ao se afastar de Raul Seixas, auto intitulado “Maluco Beleza.

       Jung buscou desvendar o que estava para além do desejo sexual, e que dizia respeito à vida espiritual, às profundezas do ser. Pesquisou os símbolos vindos  de um passado remoto, de intenso misticismo. Certos mistérios também estavam guardados nos sonhos, onde estariam chaves preciosas para desvendar segredos da vida pessoal dos pacientes, que o médico suíço passou a analisar, num processo terapêutico para a cura dos males psíquicos. Com a ciência, mas fora do seu domínio, correntes de pensamento formaram-se. Allan Kardec fundou a doutrina espírita, enquanto Helena Blavatsky criou a Teosofia, que causaram grande impacto no pensamento ocidental.

       Uma aventura enveredar pelo saber espírita e teosófico. Mas quem na mocidade não gosta de aventura? Foi o que aconteceu com  muita gente ao ler, por exemplo, “O fogo Criador” do teosófico e escritor J.J. Van Der Leeuw. Ninguém mais podia ignorar certas coisas. Surgiram os carismáticos católicos, com o acompanhamento espiritual da igreja, para que as experiência não se desvirtuassem. Paulo Coelho a essa altura havia amadurecido, quando então o mago ficou seduzido, menos pela doutrina católica e mais por sua especial magia. Permanece todavia Coelho um bom mago e escritor medíocre, a distribuir ”simpatias”. O certo é que magia, assim como o sucesso, é um mistério, coisa que não é para qualquer um.

 

      

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