domingo, 12 de julho de 2015






A VIDA É MESTRA


   As mudanças fazem parte da vida. Mudamos física e emocionalmente até o fim da vida. A face com rugas e os cabelos brancos na velhice são mudanças na aparência, outras imperceptíveis, mas não menos marcantes!  Parece que nada é para sempre. Passei a infância e juventude na mesma casa da minha avó na Rua das Hortas, um lar acolhedor que, de repente, como que se desfez no ar, literalmente, abandonado por seus habitantes, cada um com motivo para partir. Fui a última. Ás vezes é bom deixar a vida nos levar, e quando sentir necessidade de ir, não ficar ou, ao contrário, ficar se não quiser partir.

        Assim como a cada ano escolar tem que haver a renovação da matrícula, também acontece na escola da vida. Hoje é duro acompanhar o progresso, que vai a passos céleres, e nos faz sofrer mudanças, a preço cada vez mais alto. As coisas que adquirimos cobiçosamente, acabam descartadas, sem que haja o menor sentimento de perda, o que ameaça acontecer com as pessoas. Nada melhor que a moda para mostrar o quanto tudo na vida é transitório. Ninguém escapa disso. Mas não deixar que as ambições exijam de nós além do que se possa pagar, nem que desafie o bom senso. Vontade não falta de estar de todo livre, quase como um pássaro. A sensação inicial que se tem quando se muda, até de cor do cabelo, é de que se vive um novo momento. Feliz de quem pode mudar sem arriscar muito, e sempre mudar para melhor. No caso de “pior a emenda que o soneto” não desanimar. Atingir a maturidade e não apenas a maioridade, deve ser a grande realização do indivíduo.

        Não falsificar-se, a tendência de quando se chega à vida adulta, disse Isabela Boscov ao comentar o filme Cidades de Papel, baseada no livro do mesmo nome, de John Green, escritor sensação do momento, ao abordar temas da juventude.  A protagonista já impressiona por ser chamada pelo nome completo, Margo Roth Spiegelman e só andar de bicicleta em pé. Igual a tantos jovens fortes e bem instruídos, só na aparência. Uma juventude que vive um momento estranho, com pais indiferentes, permissivos, sem noção. Não contam também com o exemplo dos professores, pessoas nem sempre com boa formação. Os amigos, por sua vez, se não babam ovo, fazem bullying. Margot não se sustenta, desaba, perde o controle, ao ser traída pelo namorado, quando então convida  um enamorado de infância para ajudá-la a perpetrar uma vingança em série. Após uma noite de destruição nas residências dos envolvidos na traição, ela some, de casa, da escola, do amigo de infância.  

        A vida é mestra, e sentir seu gosto doce e amargo faz crescer. Normalmente, não fugimos, mas empreendemos uma mudança de vida: mudamos de estado civil, mudamos de casa, mudamos novamente de casa que a família cresceu, mudamos de carro, os filhos mudam e saem de casa, renovaram-se nossas expectativas, e por aí vão as mudanças. Mudar faz parte do aprendizado. Importante é termos  lembranças boas para guardar, não esquecer das pessoas especiais que fizeram parte da nossa história.  Certo que só possuímos de verdade o que podemos levar conosco aonde quer que se vá. Um sonho, por exemplo,  é a coisa mais dura de se deixar para trás, mesmo assim, continuar sonhando, ter outros sonhos –  isso é maravilhoso. E o tanto que a vida nos surpreende! Experimentar um dia vender tudo, desde a casa aos móveis e utensílios, mas sem se desfazer do mais importante, a fé e a esperança. Sem perder o brilho da infância.


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