sexta-feira, 17 de julho de 2015






       LIÇÃO DE MÚSICA

 

 

                                  

                        O liberalismo econômico e, em especial, a fé reformada, faz com que o progresso e o dinheiro deixem de ser mal vistos. Às portas da modernidade, na rica República holandesa recém-inaugurada, a mulher começa a sair da obscuridade. Momento  teria compensado  a espera, justamente quando Vermeer pinta seus quadros. A intenção da arte barroca é, principalmente instruir, o que faz o pintor ao mostrar para as moças, modelos de comportamento, além de fazer propaganda dos produtos que expõe. Foi Vermeer um dos representantes da famosa arte holandesa do século XVII. As mulheres pintadas pelo artista exercem atividades diversas, bem vestidas e penteadas como para uma festa, salvo a leiteira no quadro do mesmo nome, cuja intenção é o glamour para esconder o aspecto tosco, comum em algumas dessas mulheres. No quadro Lição de Música a cena mostra uma moça cercada de objetos, que podem ser da coleção particular, ou expostos para serem negociados. Ela  certamente pertence à burguesia próspera, e é revelador que esteja de pé frente ao piano e de costas para o espectador que a vê dedilhar um instrumento musical, sua face  refletida num espelho pendurada na parede logo acima. Ao seu lado um mestre  e instrutor.
 

                         O barroco é a expressão artística com a qual o pintor de Delft mostra a nova postura feminina, uma farsa por trás do que se vê na aparência. No quadro, um espelho raro e caro, onde a mulher se mira, assim como o piano, onde ela exercita sua arte e vaidade, também nos demais objetos expostos, com o mesmo fim. Vermeer a se penitenciar por ser ao mesmo tempo artista e propagandista, menos por gosto e mais por dinheiro. Com menos gosto ainda Vermeer expõe em sua pintura-vitrine o feminismo, o consumismo, que então se esboça. O instrumento musical é simplesmente um rico e belo objeto de consumo, e não passaria de um estímulo à vaidade da moça, que simula tocar algo. Pensava-se a música como bálsamo para o espírito, o que está escrito no tampo do virginal: A Música companheira da alegria, balsamo para o espírito. Os reformistas, que se dizem herdeiros do povo hebreu, e certamente Vermeer junto com eles, pensam, todavia, que a instrução musical seria uma forma das pessoas se afastarem da fé, e tática das mulheres fugirem das suas reais funções de esposas atenciosas, mães dedicadas, filhas obedientes. O pintor barroco não estava de todo sem razão. Seria uma incógnita a nova Republica, assim como o progresso, o feminismo, e o próprio arte de pintar.

 

                        Os homens até então ocupados em suas viagens comercias e de conquistas pelo mundo,  em cruéis batalhas contra o poder espanhol. Enquanto isso, as mulheres ficavam reclusas nos lares e nos conventos, longe da violência, mas também da vida pública. As armas dos homens feitas para matar, diferentes das armas femininas da sedução maternal e sexual. Com a riqueza acumulada, muda a sociedade, e também suas mulheres, que  optam pela instrução. No século XVII as holandesas leem e escrevem, assim como tocam algum instrumento musical, o que faz parte da educação liberal para elas, que passam a evitar, sim, e com toda a razão, a sexualidade e a maternidade, compulsórias. Penso que para Vermeer tudo seria engodo, trama, do feminismo, que então se esboça, o que ele denuncia, como se previsse  nossa pós-modernidade, as mulheres, em sua maioria, optando por não casar, não ter filhos, e a consumir desastradamente, inclusive, roupas desbotadas e rasgadas, numa simulação, em sentido oposto à lição de música do pintor. A lição de Vermeer, como pintor barroco, são os comportamentos. Houve progresso, material, sim, mas a sociedade cresceu em injustiça, e nela infelizmente não se pode confiar, ao contrário, atemoriza. Mas a promessa era bela e justa, de que a pessoa se fartaria de tudo que a vida tinha a oferecer ao plantio e boa colheita... 

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