quarta-feira, 8 de julho de 2015






                       O MEMORIOSO

  
      Tem gente que grava na memória qualquer coisa, ditas em abordagens rápidas, fatos que acontecem de somenos importância, nada que mereça atenção e cuidado. Pessoas há que se gabam de ter uma memória prodigiosa. Mas a ciência nos informa que a inteligência é seletiva, e seu grau não pode ser medido pela memória. Ter boa memória é muito bom, sim, mas esquecer também é importante. No caso da internet, deletar. Atitude hoje imperiosa, como os veículos de comunicação, onde a superficialidade toma conta de tudo. Coisas que devem ser avaliadas precisam sofrer uma peneirada, em vez de serem retidas.


        A mente atravancada perde a capacidade de interpretação e análise. Numa clicada e a internet traz o mundo para dentro de casa, tudo que há de bom e também de ruim. As redes de televisões vinte e quatro horas no ar, com todo tipo de informação, ou desinformação. Umberto Eco acaba de fazer uma entrevista para Veja, e coloca a internet no lugar do personagem memorioso de Borges, o Funes, que lembra tudo, não esquece nada.  O escritor de “O Nome da Rosa” faz uma crítica feroz contra a internet, onde ele diz que campeia a imbecilidade. Um cabotino de primeira esse milanês. Mesmo assim lhe dou razão.

       Penso na diferença que há entre memorioso que tudo lembra e o memorialista, que seleciona o que é importante guardar na memória. O critério que se deve ter sobre o que lembrar.  E que inferno seria se a gente não tivesse capacidade de esquecer. E parece que tem gente nesse inferno. Sempre tem alguém que conhecemos e age como um memorioso, assim como sempre há um memorialista, graças a Deus. A boa memória para informar dos fatos relevantes que acontecem na família, por exemplo, que deve ter sua árvore genealógica, o que não seria esnobismo.

        A boa memória ajuda a inteligência. Mas quanta inutilidade guarda o memorioso. Ele que chega de repente com uma frase dita, ou um fato que teria acontecido e o outro não consegue, ou não quer lembrar? A língua afiada, de quem tem o prazer de surpreender com sua memória, mas só lembra do que o outro já esqueceu, deletou. Além de memoriosos, são imaginosos, concebem na memória o que lhes convém. O certo é aproveitar bem o potencial da sua memória, caso contrário, é uma tortura, uma fraude.

         Não privar a mente do que é importante, as verdades, que a todos interessam. Um bom exercício espiritual é descartar as bobagens que não servem para nada, e focar no bem a ser praticado. A boa memória é educada, disciplinada, não se presta a certas coisas, como fazer pegadinha com os outros. A memória pode ser parceira, também trapaceira, cuidado com ela!

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