terça-feira, 26 de janeiro de 2016








LIBERDADE

                 16-03-1935

 





Ai que prazer

Não cumprir um dever,

Ter um livro para ler

E não o fazer!

Ler é maçada,

Estudar é nada,

O sol doira

Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,

Sem edição original.

E a brisa, essa,

De tão naturalmente matinal,

Como tem tempo não tem pressa...




Livros são papéis pintados com tinta.

Estudar é uma coisa em que está indistinta

A distinção entre nada e coisa nenhuma.

 
Quanto é melhor, quando há bruma,

Esperar por D. Sebastião,

Quer venha ou não!

 
Grande é a poesia, a bondade e as danças...

Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca

Só quando, em vez de criar, seca.

 
O mais que isto

É Jesus Cristo,

Que não sabia nada de finanças

Nem consta que tivesse biblioteca...

 

Nota: poema que Pessoa escreveu no ano do seu falecimento


          Na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, o visitante conhece o quarto do poeta, localizado no segundo andar. Parece que o local está a  espera dele para continuar a escrever ou imaginar  algumas de suas poesias, ao lado do baú, onde jogava seus manuscritos, e diante da janela que se abre para uma agradável rua, não movimentada como hoje, lógico. Abaixo foto tirada na biblioteca do poeta onde estão preservados objetos, obras antigas de suas leituras e antigas publicações de seus livros.
 
 

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