sábado, 16 de janeiro de 2016





O TEMPO QUE NÃO SE PERDEU

                                  Pablo Neruda

 


Não se contam as ilusões

nem as compreensões amargas,

não há medida para contar

o que não podia acontecer-nos,

o que nos rondou como besouro

sem que tivéssemos percebido

do que estávamos perdendo.

 
Perder até perder a vida

é viver a vida e a morte

não são coisas passageiras

mas sim constantes, evidentes,

a continuidade do vazio,

o silêncio em que cai tudo

e por fim nós mesmos caímos.

 
Ai! o que esteve tão cerca

sem que pudéssemos saber.

Ai! o que não podia ser

quando talvez podia ser.

 
Tantas asas circunvoavam

as montanhas da tristeza

e tantas rodas sacudiram

a estrada do destino

que já não há nada a perder.

 
Terminaram-se os lamentos.

         Tradução de Olga Savary 

 

 

 

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