quinta-feira, 23 de novembro de 2017





                             TÃO DIVERSOS E TÃO FELIZES!




             

             A Suprema Corte americana três anos antes havia declarado inconstitucional a discriminação racial nos bancos acadêmicos, e foi assim, amparada pela lei, que a afrodescendente Elizabeth Eckford preparou-se para enfrentar o que vinha pela frente. No seu primeiro dia de aula foi recebida aos gritos de protesto na Escola Central de Little Rock em Arkansas, frequentada apenas por meninas brancas, que protestaram contra sua presença. Quando deviam receber com festa essa nova aluna, que fora aprovada nos exames para frequentar a conceituada instituição. Mas iniciava-se ali um novo tempo, findo um processo vergonhoso de discriminação. Elizabeth conquistou a admiração das gerações futuras. Enquanto as baderneiras só teriam motivo para envergonhar-se do seu péssimo comportamento.
            
         Espanta que tenha acontecido logo ali, em 1957, mas foi Estados Unidos, de maior e mais cruel discriminação racial. E em se tratando do Brasil, dou testemunho que nessa mesma época, no Colégio Santa Teresa, não havia diferença entre as alunas, que eu percebesse, havia uma espécie de cota, na melhor instituição de ensino para meninas de S. Luís-Ma. E grande era simpatia pelas meninas de cor, contando ainda mais a seu favor a dedicação que tinham aos estudos, no que eu, branca miscigenada tinha igual  empenho. Inconcebível discriminar uma colega, nem para aquelas que ficavam em último lugar no boletim escolar, lido em classe pela mestra todo fim de mês. Lembro-me bem das primeiras colocadas, eu entre elas, graças a Deus.

        Penso no Santa Teresa da minha vida escolar, também na minha casa, igual a tantas outras, arrumada de forma confortável e definitiva, onde a infância vivia sua santa inocência. O senso comum ainda não estava estragado pela paranoia desses novos tempos em que vivemos hoje. A sorte de estar abrigados em um lar, mesmo que houvesse algum desentendimentos, comuns em todos os lares entre os mais velhos. “Tem gente que faz tempestade em copo d`água”, alertava a madrinha, de pele negra. 

     Já os  olhos azuis da minha infância eram menos chegados à benevolência "gratuita", como se dizia. Poucas palavras, e alguns silêncios de arrepiar. E ainda em criança eu pensava que seria um céu se as pessoas tivessem maior afeição uns com os outros, e demonstrasse isso, o que penso ainda hoje. O tecido familiar uma trama bem ou mal urdida, que aqui e ali se rasgava, nada que um habilidoso  cerzido não pudesse reparar. Louvo minha família pela boa convivência com a diversidade, e a capacidade de superar a adversidade. Somos assim também como povo: Tão diversos e tão felizes! Assim seja!

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