quinta-feira, 30 de novembro de 2017



                    RELEMBRANDO  MOUNIER






Dia após dia queremos estar na mesma casa, na mesma mesa, na mesma cama, no mesmo trabalho, no mesmo lugar de diversão, ter as mesmas pessoas em volta. Em suma, queremos ser sempre os mesmos.  Ninguém gosta de mudar por mudar, mas que a vida transcorra bem em sua rotina, sem grandes sobressaltos, ou novidades. Pessoas conscientes almejam, mais ainda, perseverar em seus valores. E a explicação da ciência é que nosso cérebro não foi feito para mudar de ideia. Um cérebro especial o nosso, que fez do animal homem um ser que pensa, raciocina, pondera, e pode, assim, responder por seus pensamentos, palavras e obras. 

Cada um de nós é uma pessoa, que tem uma vida íntima e se relaciona com o mundo. Sobre isso trata Emmanuel Mounier (1905-1950), filósofo do personalismo cristão, com o qual respondeu fascismo e nazismo, e tratou de dar novo alento de vida à civilização ocidental. Ao  mundo exterior que nos afronta, ensina o filósofo personalista, se deve reclamar respeito e não aceitar o esvaziamento do seu interior. Estar preparado para o confronto, a provocação, o desafio. Ser receptivos, se doar, mas não se perder no outro, sem se despersonalizar. Evitar a excessiva exteriorização, e cumprir os ditames da Lei, inserida em seu interior. A filosofia de  Mounier se destina às alturas do intelecto, mas que, na prática, tem se encarnado na vida cotidiana. Minhas leituras de juventude, junto com a de outros pensadores católicos, como Jacques Maritain, G. K. Chesterton e mais. 

           “Mil fotografias sobrepostas não nos dão um homem que anda, que pensa e que quer” — palavras de Mounier, que ele diria sobre as redes sociais e sua postagens, ápice da exposição. E que se evite a objetivação excessiva, se perder no outro. Ter abertura, mas demarcar espaço. O contato pessoal, por exemplo, pode ser, inclusive, no mínimo, para adquirir anticorpos. Penso na mente moderna, objetivada e perversa, preconizadora de mudanças radicais, a que se deve contrapor com a formação interior, com a conversão aos conceitos universais, que são as raízes da vida civilizada. Há a vontade humana, que faz avançar as mudanças, mas que nosso ser permaneça o mesmo,  em essência. Não se queira mudar, para depois sofrer com a vida sem sentido, esvaziada de tudo. Se ganhamos por um lado, há perdas, que devem ser compensadas, e o que for colocado no lugar tenha  valor, valha a pena.

Nota- A palavra "pessoa" vem de per-sona: para soar através da máscara. A mascara que os atores gregos usavam e tinha uma fenda por onde passava a voz.
PERSONA - MOUNIER



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