terça-feira, 7 de novembro de 2017




                                        

                                              
                             
            UNIDOS AO ENTARDECER


            

     Se fosse perguntado às pessoas sobre seu propósito de vida, poucos não ficariam atrapalhados. A noção da existência de uma razão de viver talvez só tenha surgido com a consciência civilizada. Evoluímos, quando então passamos a reservar tempo e pensamento para ter um propósito, ou projeto de vida, e nossa passagem pela Terra faça sentido. É justamente isso que impulsiona a pessoa, individualmente, e em sociedade, a seguir em frente, consciente dos seus valores. Em suma, o ser humano almeja transcender para além de sua condição animal. E haja a graça de estarmos todos unidos ao entardecer.
       
       Não apenas viver por viver, mas saber de antemão o que pode ser feito, e contar com a vontade para sustentar o projeto de vida. Acertar o alvo a que se proponha, sem ter que atirar para todo o lado, afinal ninguém quer, nem deve, cometer crimes por aí, intencionais, ou não. Há um projeto de vida, implícito em cada um, uma missão a cumprir. Certo que, na conspiração da audácia, vamos conviver eternamente com a desordem. Na tragédia Júlio César, de Shakespeare, Metelo e Brutos conspiram contra Júlio César, e, decididos a cometerem o crime, questionam se devem recorrer ao filósofo Cícero, e assim dar credibilidade ao feito. Diz o primeiro: “A prata dos seus cabelos nos comprará a boa opinião e obterá vozes humanas para realçarem nossos feitos.” O segundo retruca: ”Oh não, nossa juventude e audácia não aparecerão nem um pouco, porque tudo ficará sepulto na gravidade dele”. Cássio confirma: “Então vamos deixá-lo de lado”. Por fim Casca dá sua opinião: “Sim, ele não convém.” O bardo inglês dissecando o poder em seus meandros, obscuro poder, de pouca luz.   

       Ter um propósito não significa tomar o poder à força. Os moços querendo mudar tudo, enquanto os mais velhos acreditam que ainda há muito a fazer, e podem entrar em acordo no essencial. Vivemos, todavia, uma fase crítica, os de menos idade achando que não precisar de mais ninguém, frustrando as espectativas dos que têm mais anos de estrada, e pensam não servir para mais nada. A natureza que amamos, o próximo que respeitamos, e, em especial, a paz que almejamos, acalentaram e ainda acalentam nosso projeto de vida. E mesmo que não nos deixem em paz e nos odeiem, mesmo que haja terror por toda parte, mesmo assim, não devemos desistir do melhor caminho, e ir além, no conhecimento de nós mesmos, e no amor de Deus. 

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