segunda-feira, 17 de dezembro de 2012


                              CENTENÁRIO DE LUIS GONZAGA




Saltar fogueiras, dançar quadrilha, costume dos colonizadores portugueses, que se tornou popular no Brasil. E nada melhor para animar uma festa junina, já bem brasileira, do que o baião. Lembro-me daqueles idos de 1950, em que Luís Gonzaga, “o rei do baião”, com sua cara feliz de lua cheia, cantou no  pátio do colégio Maristas, a convite dos padres e das freiras  do Santa Teresa. Talvez o sanfoneiro não tenha recebido outro pagamento a não ser a alegria de alegrar a meninada, um presente de Deus:...”Olha no céu meu amor, veja como ele está lindo... ”Quando eu chego na cancela, minha Rosinha vem correndo me abraçar, é pequenina, miudinha, mas não tem outra mais bonita no lugar”. Suas canções falam também da seca inclemente. Contrastava com a música do amargurado  Herivelto Martins para provocar Dalva de Oliveira, e ela respondia na mesma pisada: “Errei sim, manchei o teu Nome”.
Luís Gonzaga se estivesse vivo faria agora em 2012 cem anos, e podemos compará-lo, em termos de sucesso, com Roberto Carlos. Cantores que embalam as almas românticas, a das mulheres, em especial, se bem que muito marmanjo nesse momento pode estar repetindo para a amada: “Esse cara sou eu”.  Um fenômeno “o rei” Roberto Carlos aos setenta ainda fazer o mesmo sucesso de tempos atrás. Gonzagão, nos seus últimos anos de vida estava meio esquecido, sendo substituído com sucesso por Gonzaguinha, o filho carioca, criado no morro de São Carlos, das canções engajadas, falecido num desastre de carro, amado, principalmente pelo hino O que É, O que É? Canção que exalta a pureza  da criança, aquela que existe  em cada um.
O centenário de nascimento do nordestino ilustre está sendo festejado também na tela do cinema, com o filme de Breno Silveira “Gonzaga - De Pai para Filho”. O mesmo cineasta que filmou a vida de Zezé Di Camargo, em “ Os Dois Filhos de Francisco”, em ambos os casos evidente a influência dos pais na carreira dos filhos artistas. Enredos que pecam, todavia, pelas mazelas exibidas, sobrepondo-se à música. Luís Gonzaga, que começou a tocar sanfona ao lado do pai, aparece no filme levando uma surra da mãe, depois sendo expulso de casa, quando então deixou sua Exu natal, sem suspeitar que iria tão longe e tão alto. No caso, a vida não imita a arte. O rei do baião andou por esse Brasil embalando sonhos de felicidade, no entanto, teve ainda de fugir do seu primeiro amor, pois o pai da moça, político poderoso, quis matá-lo. Casou com sua secretária, primeira e única esposa até a morte, do que muito se orgulhava.
Segundo o filme, nos últimos tempos Luís Gonzaga levava uma vida precária numa chácara no interior, até ser resgatado por Gonzaguinha que já fazia sucesso. Bom mesmo é ver pai e filho, sem mágoa, cantarem juntos no show que fizeram no Rio de Janeiro, como mostra o feliz documentário para a televisão, onde podemos apreciar melhor as canções que embalaram a juventude nos anos cinquenta e sessenta.  A música de Gonzagão e Gonzaguinha de características diferentes. O nordestino com chapéu de vaqueiro e gibão cantava o tradicional baião, que surgiu do lundu, para lembrar a seus conterrâneos - os que se aventuravam no sul do país – a esperança de felicidade que não deve morrer. As mazelas do sertão e do seu tempo ficam de fora, no que Gonzagão fez bem, o povo quer é ter essa alegria pura, inocente, acima de tudo. 

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