terça-feira, 11 de dezembro de 2012


                               Vermeer no Brasil


     Neste mês de dezembro de 2012, São Paulo recebe Mulher de Azul Lendo uma Carta, quadro pintado entre 1662 e 1664 por Johannes Vermeer (1632-1675). Uma das 29 magníficas obras, consideradas autênticas, que o artista pintou na sua Delft natal, onde morreu aos 43 anos, cheio de honras e de dívidas, principalmente em consequência dos prejuízos da família com as inundações, costumeiras na Holanda, país que lutou contra invasões estrangeiras e das águas até o século XVII, justamente quando floresceu o gênio da pintura holandesa e sua República. Na Holanda republicana e de grandes nomes, se destaca Vermeer, mestre do barroco alegórico. A arte barroca, da reforma católica, ou contrarreforma, tinha o intuito dar informações ao observador, razão das extraordinárias composições de cena que Vermeer armou num canto da sala, espécie de representação teatral, e que ainda usou uma câmara escura para projetar as imagens numa folha de papel ou lâmina de vidro. As magníficas cores, típicas de Vermeer, assim como sua técnica e modernidade, os visitantes do MASP vão ter oportunidade de admirar. Em cada detalhe uma lição e um segredo por trás, que pode transmitir algo importante para os dias de hoje. 
     A obra desgastada pelo tempo implacável teve de sofrer intervenção da moderna tecnologia, sendo restaurado o esplendor da pintura original, segundo os entendidos. Do Rijksmuseum em Amsterdã saiu, então, a imortal mulher de azul para percorrer o mundo. Muito a propósito anexo um texto que escrevi sobre o quadro em exposição no MASP. Venho há tempo estudando a pintura de Vermeer, tentando interpretar suas pinturas, que vão além do que se observa à primeira e muitas vistas. Em breve pretendo publicar meu estudo no livro “Revelando Vermeer”. 



     “Mulher de Azul Lendo uma Carta mostra a imagem de uma mulher concentrada na leitura de uma carta, vestida com bata no tom azul, em correspondência com o semblante tranquilo, próprio de quem usa tão elegante vestimenta, última moda. A cor azul, típica de Vermeer, pigmento que ele tirava de uma rocha rara, o lápis-lázuli, entre outros produtos valiosos usados pelo pintor na fabricação de suas maravilhosas tintas, até hoje provocando puro deleite ao espectador, pela sensação que transcende a realidade, o cotidiano. O azul raro fala da vida rara, íntima, familiar, de uma dama da burguesia na recém-criada República holandesa, considerada da paz e da prosperidade. Ela parece esperar um filho, também aguardar o companheiro em suas longas viagens marítimas ao Oriente, por exemplo, para o comércio, outro tipo de guerra entre as nações, além das tradicionais. A carta avisa, então, que ele logo estará de volta para o casal ocupar aquelas duas cadeiras vazias. A carta e o mapa na parede falam, pois, da ausência e consequente esperança de retorno da felicidade pessoal, familiar. 
    “A sensibilidade daquela mulher, aguçada pela gravidez e pelas notícias, não altera seu semblante que transmite dignidade, coragem interior, exemplo para seu tempo, também, para o nosso tempo presente, onde nada parece merecer respeito, consideração, as esperanças como que perdidas, num vendaval de ambições e desilusões, coisa que aquela mulher também sofre, mas tem paciência de esperar que passe, de quem tem fé, para não se expor ao mal que sempre ronda o mudo, as pessoas. Não há janela no quadro de recatada interioridade, e a luz que envolve a elegante leitora viria, em especial, da nova mensagem de fé, esperança e caridade. As três virtudes teologais adquiridas nas leituras femininas da época, que fortalecem o caráter, elevam a alma. A leitura como status, e alguns textos impressos estão empilhados na mesa em frente à dama. O aparelho cognitivo fator decisivo para a evolução do ser humano, dando-lhe capacidade de reflexão, de comunicação, através da leitura; o pensamento transformado em conceitos e juízos. A vida moderna passa a contar com publicações impressas, e já naquela época era grande o número de impressores holandeses, que se destacavam em seus empreendimentos lucrativos.” 


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