sábado, 9 de novembro de 2019



CONTO



                   MARIA RECEBE CONVIDADOS
                            PARA O CHÁ




          
         Maria deleitava-se com a primavera, quando uma frondosa cerejeira floria em frente a sua casa, que ela não se cansava de admirar, toda coberta de um luminoso amarelo. Encontrou a avó Nena na sala, dando os últimos pontos em seu bordado de flores de sianinha para colocar na mesa em homenagem à estação. Declarou toda contente:

         — Sou feliz por viver neste planeta, na nossa amada terra, feliz por ter nascido nesta cidade, nesta casa, e sinto-me, mais que tudo, privilegiada  por ter essa família. Sou feliz por você, vozinha, que cuida tão bem de mim, na ausência de minha mãe, que está no interior fazendo inspeção a serviço do Ministério.

        — Maria, deixa de conversa e me escute — falou sua avó — vou ter que sair e quero que você sirva o lanche da tarde para minhas amigas. Vou trazê-las para cá depois da reunião de preparação para o Natal dos velhinhos do abrigo Santo Antônio, que ajudamos. E se quiser, pode convidar sua amiga Nazareth.

      — Quem bom, vovó, vou me sentir adulta e responsável, o que desejo imensamente. Posso usar o lindo aparelho de chá cor de rosa, que tem admirável florido? Ele fica todo o tempo guardado, precisa de uso, não é mesmo?

         — Você sabe que o aparelho de porcelana, herança da minha mãe, tem valor afetivo, e por sua antiguidade podia estar em um museu. Mas você pode usar o conjunto branco, que também é bonito. Tem o bolo e os docinhos que fiz em quantidade maior que as encomendas. E não mexa no licor de abricó, que sua tia fez e está muito forte. Peça para Joana fazer limonada suíça, acredito que vai agradar.

        Se havia uma coisa que Maria gostava era de se sentir adulta, e a perspectiva de ajudar era um grande estímulo para ela, que fazia suas estripulias, mas nada que prejudicasse os outros. No dia anterior havia subido na caramboleira do quintal de casa e foi tão alto, que quase cai, com o perigo de quebrar algum osso, como aconteceu com sua tia, que havia tropeçado na calçada esburacada. Mas dona Nena já havia pedido providência da prefeitura. Reclamou que a cidade, por ser antiga, precisava de conservação para não virar uma favela, e ainda acabar com as pessoas que ali viviam.

        - Pode ir descansada, vozinha, estarei sempre pronta para servir minha família em qualquer ocasião, e me orgulho de ter ajudado a tia quando ela quebrou o braço, coitada, e não podia fazer nada - disse Maria todo orgulhosa. 

        — Sim, Maria, sei da sua dedicação, e seu amor nos anima, além do seu empenho em ser útil.  Mas deixa eu ir, já estou atrasada. 

          A avó saiu para seu encontro e Maria voou para a casa de Nazareth para convidá-la a passar aquela tarde em sua casa. Voltou de cabeça baixa, a amiga tinha saído com a irmã mais velha para fazer compras. Sentiu-se traída, mas não era hora de lamentar-se, tinha uma missão a cumprir, e ia fazer tudo para não decepcionar. O que realmente aconteceu, salvo a limonada que ficou amarga, Joana colocou limão demais.

        O chá e tudo o mais estavam uma delícia, o que as amigas de sua avó não se cansavam de elogiar, como também elogiavam os modos de Maria. Dona Corina nem conseguia se lembrar-se da menina, que chamou de alvoroçada meses atrás, ao chegar de viagem, e esteve ali queixando-se de Deus e todo mundo.  


BORDADO DE SIANINHA
       

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