sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

 

RELIGIÃO E ARTE

 

                                               PAULO DE TARSO

 

 

                    Paulo de Tarso, venerado santo católico, era judeu de  nascimento e cidadão romano, que se converteu em  Damasco, e acabou por consolidar o cristianismo. Uma bênção que o apóstolo tenha estado ao lado de Pedro, pedra fundamental da igreja, enquanto Paulo  seria a madeira de lei com que foram construídas as igreja por onde o exegeta passava em sua missão de difundir as palavras Cristo. Quase um ser alado, Paulo percorria longas distâncias, como se tivesse asas, ou estivesse dentro de um carro, até mesmo no avião. E quão distante o santo estava deste nosso conturbado mundo moderno.                

                Roma na época era um cadinho cultural, por conta dos povos conquistados. Paulo em sua doutrinação pôs abaixo as crenças existentes. E com o Cristianismo o mundo antigo pôde se reerguer em novas bases uma cultura em decadência. Com acuidade concebeu o dogma da Ressurreição do mestre Jesus Cristo, morto na Cruz.  Falou Paulo nas tribunas, nos púlpitos e no monumental teatro de Éfeso diante de milhares de ouvintes  atraídos por sua retórica, os quais foram convertidos à sua Fé universal. Morreu decapitado em Roma no ano de 67 d.C. legando ao mundo conceitos novos. A fé cristã de Pedro e Paulo deu origem à civilização ocidental.

 

REVELANDO VERMEER

 

Rua de Delft

 

 

                  O quadro Rua de Delft é quase todo tomado pela fachada da casa, revestida com tijolos irregulares, desgastada, com falhas de defeitos, e sem os modernos revestimento de outras residências na progressiva Delft. Os romanos, mestres no ofício de confeccionar tijolos, também mestres nas artes, cujo ápice foi o Renascimento. A casa é uma metáfora antiga para a situação de conforto e proteção do homem, de aspecto decadente no quadro de Vermeer, a parecer uma casa assombrada. Revela o atraso, o obscuro — uma modernidade o pintor tratar do assunto, uma vez que o progresso ainda preocupava, considerado falso, enganoso. Retrocedendo no tempo, em Jericó, a primeira cidade, de fé rudimentar, encontra-se o homem  a fabricar  tijolos, e tudo o mais que os romanos aperfeiçoaram, até a invenção do concreto, utilizado nos modernos prédios de avançada tecnologia e soberba arquitetura.      

A fé católica, apostólica, romana acabara de receber duro golpe com a Reforma protestante, que é adotada pela recém-criada República holandesa da paz e prosperidade. Vermeer era calvinista de nascimento e convertido à fé católica após o casamento com uma mulher da tradição católica. Na época pululavam heresias por toda parte, gente apegada a crenças estapafúrdias, difícil de prosperar. Do lado de fora da casa duas mulheres, alheias uma da outra, estão de cabeças baixas, exercendo suas atividades domésticas. Habitam o local, que é também uma oficina, comum à época, parece desativada.  Têm ao lado um casal de jovens entretidos em algo que escondem dos olhares estranhos. Extraordinária, pois, a modernidade de Vermeer. Pinta para o presente e o futuro, as mulheres com suas crianças quase fora do lar, ao mesmo tempo alheias ao mundo exterior, sem darem sinal de vida inteligente. Obscuros habitantes da casa, seu interior sem a energia espiritual das mulheres que a ilumine, sem a força do trabalho masculino que a enriqueça. Época das guerra de conquista territorial e também guerras religiosas, quando então as mulheres se veem sozinhas, sem os companheiros.

Uma rua de Delft, metáfora utilizada por Vermeer para o mundo em decadência, a exigir reformas, a começar pela Reforma protestante, também a reforma católica, chamada Contrarreforma. E se as mulheres e os jovens do quadro levantassem o olhar iam ver no alto o lindo céu azul, também podiam observar que tinham à frente uma rua larga, por onde podiam caminhar livremente em direção ao progresso. No século XVII o crente e otimista Vermeer via o progresso como salvação. Adiante no tempo o pintor Munch e o escritor Dickens no seu pessimismo concluem que o progresso é um grande vilão. E aonde ia parar o ódio dos homens? Haveria de chegar a Hitler, o ditador genocida. Milhões de judeus mortos, um holocausto. O carvão substituído pelo asséptico e frio gás nos fornos nazistas, atrocidade de tal monta, porque um dia uma nação magoada se deixou levar pelo fanatismo de  um louco nas suas delirantes fantasias. Rica e poderosa Alemanha, seu povo laborioso, de  reconhecida  inteligência, com um passado que a envergonha, que na atualidade alavanca o progresso no continente europeu. Mas que ninguém esqueça ter um dia  matado covardemente milhões de judeus, entre eles Anne Frank que deixou o testemunho do seu cruel e injusto cativeiro com a família, no seu famoso diário.

Em Vermeer observa-se a moral da fé cristã reformista, assim o pintor revela para a posteridade o ideal republicano então vigente de mobilidade social, patriotismo utilitário e enriquecimento lícito, acrescido de modéstia e altruísmo.

 

 

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