quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

 

 

Texto inspirado em Jane Austen

 

                              A CASAMENTEIRA

 


 

No romance Emma, de Jane Austen, o Sr Woodhouse, faz a seguinte advertência a sua filha:

— Espero que você não tente mais casar ninguém, nem faça previsões porque tudo que diz sempre acontece. Por favor, não tente mais unir ninguém.

Emma acabara de ter sucesso com um casamento planejado por ela,  orgulhosa do feito, mas sentia a partida da governanta que era uma segunda mãe para ela. Aos vinte e três anos não pensava em se casar, agora morava sozinha com o pai e tinha a casa de Hartfield para cuidar. Perdera a mãe muito cedo, as mães grandes casamenteiras, e quase sempre boas conselheiras, responsáveis pelo sucesso de suas filhas. Emma queria ser mãe para a linda Harriet, abrigada numa casa para jovens carentes, que levou com ela para lhe fazer companhia. Uma pupila obediente, ”valiosa contribuição para seus caprichos”, induzindo-a na escolha de um marido. Quer que ela case com alguém que a faça ascender socialmente. Começa por induzir a moça a recusar o pedido de casamento do Sr. Robert Martin, e lhe diz: “As pessoas se apaixonam e desapaixonam com facilidade.” Sem perceber que a inteligente Harriet já havia feito sua escolha, dentro da sua realidade cultural e social.

A austera Jane Austen, uma casamenteira, que forja os casais mais “compatíveis” da ficção, mas o que quer mesmo é dizer que cada um tem o que merece. Frank Churchill, por exemplo, um grande interesseiro, a autora arruma situações para ele vir a casar com a pessoa certa, pronto. O pastor Sr. Elton é o primeiro escolhido de Emma para casar com Harriet, que ele despreza, em escuso interesse por Emma, e acaba por casar de acordo com o seu gosto, babando pela fofoqueira, que inferniza a vida de todo mundo, inclusive a do marido babão. O Sr. Knightley é vizinho de Emma, e em visita constantes a sua casa, com intenção de conquista seu confuso coração, atento para evitar possíveis danos, que ela possa causar a si mesmo e aos demais, já que ela tinha poder de persuasão no seu núcleo social e familiar. Depois de algumas reviravoltas na trama Emma casa-se com o sr. Knightley, como era de prever que acontecesse, o mérito pendendo para o noivo. Harriet aceita o segundo pedido do Sr. Martin, que ela havia escolhido antes da descabida interferência de Emma.

Até meados do século passado existiam as chamadas casamenteiras, sem outra pretensão a não ser ajudar as pessoas a encontrar seu par, com vistas ao casamento, união para a vida toda. Aproveito então para contar uma história da vida real. Dalva lastimava alguns casamentos na família, mas sempre na torcida pelo sucesso matrimonial das pessoas que conhecia, descobrindo as compatíveis para casar. Uma casamenteira deve ter o dom de  intuir e o caráter para discernir, o caso de Dalva, uma boa pessoa, que desejava o melhor não só para si, mas para as outros. Em especial, não querer acertar na loteria do casamento, ter na mão o palpite de sorte, mas evitar equívocos. Dalva salva o único irmão de uma união inconveniente. Consequentemente, seria responsável por ele ter realizado posteriormente um ótimo casamento, o que em parte se devia a sua interferência. Conquanto a escolha seja esforço pessoal, mérito de cada um. Dalva ouviu do irmão:

— Minha querida, saiba o quanto sou grato por sua amizade, mas sobre o casamento acredito que o bom mesmo  é ter liberdade para escolher seu par, o que não exclui a ajuda de alguém. Mas para dar certo os interessados devem ter merecimento na escolha.

A irmã estava de acordo:

— Certo que sem esforço não há sucesso nesse sentido, nem em outro qualquer. Melhor não fazer nada do que agir intempestivamente, lema que serve para as casamenteiras, também cabe aos apaixonados.

 

 

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