quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

 

 

                             O TEMPO DE CADA UM

 

Fonte do Ribeirão S. Luís Ma

 

A vida é uma dádiva, e é certo que há um tempo para cada pessoa crescer e acontecer, com a ajuda da sorte, que nada mais é que o empenho e a paciência despendidos. Iniciamos nossa viagem com a bagagem reduzida, em que pese o fator hereditário, que pode ser fácil de levar nas costas, ou, ao contrário, uma carga pesada. Como se não bastasse, herdamos um mundo difícil de suportar. E ainda termos de responder pelos desatinos dos contemporâneos, e não são poucas as loucuras que grassam por aí. E o sofrimento, que tenha pressa de passar para ficarmos livres de uma vez. Mas que as alegrias cheguem bem de vagar para durar a vida toda.

Meus avós, filhos de imigrantes de origem ibérica, amavam o país onde nasceram e jamais quiseram viver em outro lugar. Nem em visita pensavam em atravessar o mar em direção ao continente europeu e deixar a ilha onde seus pais progrediram e seus descendentes eram felizes. O cotidiano tosco podia ter inibido meus antepassados europeus, mas a rotina do trabalho fazia com que progredissem e se sentissem valorizados. Desfrutavam a aprazível sombra do progresso, no escaldante nordeste brasileiro. Aceitaram os momentos difíceis, a vida menos perfeita que de além-mar. Sustentaram com galhardia o os escombros da velha cidade de S. Luís, para receberem o prêmio final de uma vida de modestos privilégios.

Guardo a sensatez dos meus antepassados como perene lembrança. Iniciados na fé, esperança e caridade pela água do batismo, e salvaram-se. Não lhes faltaram padrinhos para servirem de guias. Uma herança digna, que me impede de ser uma simples aventureira, a querer albergar-me seja onde for. Por acaso devo capitular sob a pressão desse modernidade trânsfuga, desatinada, que a nós todos quer seduzir?

 

VERMEER  EM PAUTA

                                                       O ASTRÔNOMO

               


 

                     No quadro O Astrônomo  vemos um erudito fechado em seu gabinete de trabalho,  um desses homens que cultivavam o saber, considerado na época  espécie de mago, ou místico. O personagem de Vermeer estaria, por exemplo, examinando o mapa astral para elaborar um horóscopo. Seria um erudito padre jesuíta, vestido como mandarim, posição destacada dos jesuítas na China, em missão evangelizadora. Os padres jesuítas conhecidos em Pequim como astrônomos, ou geólogos. Os missionários  católicos ensinavam rudimentos da fé, e com eles trocavam conhecimentos, tendo alcançado sucesso, até o mandarinato, o que confirma as vestes e a distinção da barba do personagem formada com os cabelos da cabeça, pela astúcia do pintor.

 Uma carta náutica está suspensa no móvel, do lado esquerdo da cena, e aponta tanto para coisas do espírito, quanto do tráfico comercial, época em que a astronomia estava aliada à magia, e praticada por nada menos que o erudito e também empírico Johannes Kepler (1571-1630). O mesmo acontecia com o cônego e mago Nicolau Copérnico. O conhecimento em vias de se tornar científico,  o caos universal das ideias denunciado pelo pintor através da manta que cobre a metade da mesa do astrônomo. Ilusão usada por Vermeer para indicar as forças da mente, em revolução e evolução das ideias, próprias da natureza humana. O doutor Fausto de Christopher Marlowe (1504-1593) é um “astrônomo” com extraordinários conhecimentos também em anatomia, que sofre revés, por conta das experimentações que pratica. 

O olhar do astrônomo está posto sobre o globo celestial de Jodocus Hondius, tendo à sua frente um livro aberto, o que nos faz interpretar sua posição como de quem quer tomar posse do mundo pelo saber intelectual. O globo complementa a pedagogia do texto impresso, o caso do livro aberto à frente do astrônoma, que pode ser o livro “Exploração e Observação das Estrelas” de Adriaen Metius (1618) que trata do astrônomo mais antigo, que seria Moisés.  O antigo Egito considerado marco do nascimento da astronomia, na observação dos astros e dos fenômenos, como o eclipse. Daí vermos à direita do quadro de Vermeer o esboço da pintura do profeta ainda bebê salvo no Nilo, onde Moisés aprendeu a observar o céu, marco do nascimento da astronomia. 

No século XVII a astronomia em experiência globalizado propicia os avanços na navegação, com que os portugueses puderam dobrar o Cabo da Boa Esperança, e chegar aos quatro cantos da terra. O judaísmo, o islamismo e o cristianismo, envolvidos com a ciência, com o progresso. O cristianismo o maior responsável pelos avanços científicos no mundo ocidental moderno. A ciência hoje encontra-se sob a égide do mundo laico, desprovido de qualquer limite para suas experiências. Mas todo o cuidado é pouco.


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