quarta-feira, 1 de maio de 2013


                         A NOBREZA DAS BOAS INTENÇÕES

 
        O processo evolutivo começa com a linguagem, a comunicação é oral nas culturas caçadoras e coletoras.  Com palavra escrita avança a comunicação e a transmissão de conhecimento, que se amplia e perfeiçoa com a impressão, salto que a sociedade deu para a civilização moderna. A humanidade evolui por sua inteligência, até o domínio da razão que passa a impor regras, conceitos, a criar suas leis. Vermeer tem a sorte de poder registar o momento importante de início dos tempos modernos, dos avanços da ciência e técnica, da liberdade, principalmente para as mulheres, que nesse quadros do pintor aparecem dedicadas à leitura, à escrita.  A habilidade da expressão, estágio posterior ao ato da leitura que depende apenas do olho e da mente amadurecida para a impressão do que está escrito. Jovem Escrevendo mostra a atividade feminina de escrever, que tem apoio no tripé: mão, olho e cérebro, treinados para a escrita Mas parece que o intuito da moça ao empunhar sua pena é fazer propaganda pessoal, seu olhar firme dirigido para quem a vê do outro lado da cena. Foge essa mulher da simples vaidade, quer ser uma personalidade, dedicada a uma atividade mais útil, menos fútil.  
      Na recém-criada República holandesa, da paz e da prosperidade, o desejo específico dessa mulher da nobreza holandesa é reconhecimento por sua inteligência.  Na mitologia, a deusa grega Atena, protetora dos sábios e dos artistas e inventora da escrita, castiga Meduza ao fazer com que seus belos cabelos se transformem em cobras, seu olhar vire pedra. A jovem no quadro, ao contrário da górgona,  em vez de cobra, tem laços de fita nos cabelos; tem as mãos firmes de escritoras em vez mãos de ferro; o manto de seda dourada em vez do corpo coberto de escamas. O espírito reformista do artista inspirado no saber antigo, na tradição, para subvertê-los. O colar de pérolas, que a mesma jovem exibe no quadro anterior, repousa sobre a mesa, uma vez que essa mulher tem outro tipo de vaidade, a intelectual, e suas pérolas são do saber, o que a elite moderna almeja alcançar. Sem relegar a história, Vermeer mostra a modernidade de uma época, em que se postula um futuro promissor para a mulher, cuja conduta não visa encantar deuses, ou homens, mas ser uma pessoa importante, culta. Postula uma nova história.
     A mulher condicionada, no sentido de cooperação e respeito, por ser ela a intercessora no mundo, capaz de insuflar a humanidade em direção ao bom comportamento, à civilidade, o que constitui o conteúdo didático da pintura barroca tridentina. Arte para fazer brotar mais vida num mundo, que oscila entre o céu da transcendência e o inferno da contingência e soberba humana, perigoso para a mulher, que sofre mais que os homens com tudo isso. Mas nunca deixa de lutar pela vida, pelo que acredita, pelos seus objetivos. Mulheres aguçadas pela modernidade do conhecimento e, para tanto, levam nas mãos os instrumentos desse progresso, ou seja, o papel e a pena, em especial. No mundo contemporâneo, da interatividade,  as mulheres, como os homens,  atuando no mundo virtual  nem sempre de modo racional. Tantas pessoas no trabalho diante do computador, ou mesmo em casa em frente da televisão, perdendo o interesse pela vida na sua essência. No medievo, a iniciação e interação, através da leitura, da escrita, e também da música, e mais precariamente através do vinho.

     É evidente no quadro de Vermeer que essa mulher tem atitude de acordo com a classe da aristocracia. Séria candidata séria ao sucesso, e não como as moças de hoje, no BBB e na Internet, às vezes tendo como única meta matar o tempo, mas que se expõem, quase sempre, indevidamente. “Ironia, ironia, ironia, tudo é ironia” retruca o iluminismo no século XVIII. A moderna virtualidade, por exemplo, que pode ser perigosa, como uma forma medieval e infernal de não socialização, de se ficar conectado com pessoas que não mereçam atenção, muitas vezes alienadas e alienantes, até mesmo criminosas. 
     A eletrônica de admirável utilidade no mundo contemporâneo,  técnica extraordinária posta à disposição da humanidade, auxiliar importante no trabalho dos que buscam o aprendizado e mesmo o sucesso e reconhecimento pelo que são capazes de realizar. As novas atividades, os instrumentos modernos de comunicação e mídia, que devem ser usados e não abusados, por exemplo, ao se criar uma personalidade falsa, diferente da pessoa real, uma vez que sem inteligência nada prospera no sentido pessoal, muito menos social.  Importante que todos que navegam em mar de e-mail não fujam das responsabilidades, já que a tendência atual é a irresponsabilidade tomar conta de tudo, a exemplo dos invasores de privacidade para cometerem crimes, ou dos sabotadores que podem levar ao caos a comunicação via internet. A trajetória humana de excessos cometidos, desde a multiplicação da espécie à proliferação das mazelas. 

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